O VOO


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Para ilustrar o tema, escolhi a imagem "O voo do Pequeno Príncipe". O Pequeno Príncipe é o título do livro do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), publicado em 1943. Narra a história do Pequeno Príncipe, herói de uma fábula, que sonhava um dia voar, virou piloto de avião e passou a reinar pelos céus, visitando os planetas e fazendo "amigos".

Prólogo

“A vida de quem inventa de empreender voo é paradoxal, todo dia. É o coração eternamente dividido. É chorar porque queria estar lá, sem deixar de querer estar aqui. É sentir alegria e tristeza na partida, a dificuldade e o sonho na permanência. É se orgulhar da escolha que te ofereceu mil tesouros e se odiar pela mesma escolha que te subtraiu outras mil pedras preciosas. O preço é alto. A gente se questiona, a gente se culpa, a gente se angustia. Mas o destino, a vida e o coração às vezes pedem que a gente embarque. Alguns não vão. Mas nós, que fomos, viemos e iremos, não estamos livres do medo e de tantas fraquezas. Mas estamos para sempre livres do medo de nunca termos tentado.” (Adaptado de texto atribuído a Vilmar Becker)

O meu voo

Desde a adolescência já queria voar. Passava horas no Aeroporto de Congonhas em São Paulo vendo aterrisagens e decolagens, sonhando... Aviões, o movimento e as emoções dos viajantes, escolher e comprar livros na Livraria La Selva, o cafezinho, o desejo de aventurar, de empreender voo! Quando criança queria ser piloto de avião, queria voar. Sonhava que podia voar, e voava, voava. Podia ver lugares e pessoas. E desde que comecei a voar não parei mais. O significado de voar ampliou-se para ser a forma de aprender, crescer, viver e realizar meus sonhos. Mas o destino, a vida e o coração às vezes pedem que a gente embarque... E empreendi outro voo, estou em plena viagem.

Voo e viagem... E você já chegou ao final? Pergunta minha consciência...

Sinto que ainda não. Mas espero que o voo que me trouxe até aqui me leve de volta para onde eu pertenço, às minhas raízes. Esta é a ideia. Voltar. Assim foi quando empreendi o voo pelo mundo afora na música, depois na carreira de executivo; sempre voltava. E agora no voo que empreendi para a Colômbia, não deverá ser diferente. Ou seja, o voo tem que levar a gente, mas não pode ser apenas uma viagem de ida. Tem que ser um voo de ida e regresso, porque se não, a gente se perde, outras coisas nos absorvem. Isto sempre foi muito claro para mim.

Muito significativas as palavras que refletem a experiência de Yuri Buenaventura: "O voo tem que te trazer à sua raiz, sempre! Se não for assim, não saia da sua terra; se não for capaz de fazer o voo dessa forma, não saia da sua terra. Como imigrante, não saia de sua terra, pois, quem volta é outro, se perde, e quando volta já não se encontra mais, porque voltou outra pessoa". Para todos nós que vivemos esta experiência, isso é muito importante. Para Yuri, em especial, ainda mais, pois o sucesso dele na França está diretamente ligado às suas raízes, ao fato de ser um "salseiro" colombiano.

O problema é que, aos poucos, além de estrangeiro em outro país, a gente pode se tornar estrangeiro no próprio país, se perde, e fica aquela sensação de não pertencer nem a um lugar nem ao outro. Então, é muito importante estar o tempo todo atento ao voo. E assim tem sido. 

Para minha felicidade trabalho como professor de português não só ensinando o idioma, mas a cultura e a história do meu país. Não só isso, com a tecnologia, estou o tempo todo conectado com o que está acontecendo no Brasil. 

Mas confesso que é difícil tudo isso. Não corro apenas o risco de me tornar outra pessoa durante a viagem. Venho de uma cidade cosmopolita, tudo muda muito em São Paulo, e rápido! A cada vez que retorno encontro a cidade diferente. Maior, mais rica, com costumes diferentes, mais cara para viver. Praticamente não reconheço mais as pessoas nas ruas. É diferente quando você vem de um lugar que permanece praticamente igual no tempo. Corro o risco de voltar e encontrar outra cidade! 

Ainda não me senti estrangeiro na minha própria cidade, mas quase... Dessa forma é ainda mais importante estar atento ao voo e conservar a ilusão de que teu voo te leva sempre para mais alto. Em verdade, não sei qual será o fim. Então, devo continuar indo e voltando e “voando e cantando enquanto resistirem as asas”.

Epílogo

“Goza a euforia do voo do anjo perdido em ti; Não indagues se nossas estradas, tempo e vento desabam no abismo. Que sabes tu do fim... Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas, conserva a ilusão de que teu voo te leva sempre para mais alto. No deslumbramento da ascensão, se pressentires que amanhã estarás mudo, esgota como um pássaro as canções que tens na garganta, canta, canta para conservar a ilusão de festa e de vitória, talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro. Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo rumo ao céu? Que importa a rota, voa e canta enquanto resistirem as asas.” (O voo - Menotti Del Picchia).

Fonte de inspiração

Este texto foi inspirado pela história de Yuri Buenaventura, cantor de salsa colombiano, que desenvolveu sua carreira em Paris, na França, tornando-se um dos artistas latinos mais influentes desse país. Como o episódio mais importante da minha carreira musical ocorreu na França, especialmente em Paris, a identificação foi imediata. Também, pelas circunstâncias da minha vida, com um dos seus grandes sucessos, a canção “Vuelo”. Além disso, representa também a minha admiração e respeito pela trajetória desse artista. Abaixo o link para o site de Yuri Buenaventura, da canção "Vuelo" com a Orquestra Sinfônica Nacional da Colômbia, e vídeos de um documentário da TV Colombiana Caracol, que conta a sua história. Fantástico!

Site oficial Yuri Buenaventura   

Documentário "No me dejes más" TV Caracol - Colombia - Parte I

Documentário "No me dejes más" TV Caracol - Colombia - Parte II


Vuelo - Yuri Buenaventura com a Orquestra Sinfônica Nacional da Colômbia



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