Vai chegar o dia...

 

Não vai ser sempre assim. Vai chegar o dia em que seremos felizes outra vez. Você não será mais acordado com a notícia de amigos, de amigos dos amigos ou de amáveis desconhecidos partindo por uma doença implacável.

Vai chegar o dia em que os noticiários na TV não vão falar o tempo todo de mortos, contagiados, política, cloroquina, vacina e violência.

Neste dia, você vai acordar depois de um sonho bom, sem medo e revigorado. Vai tomar aquele banho demorado e cantar no chuveiro.

Neste dia, você não vai passar o café em casa. Ao contrário, você vai vestir uma roupa colorida e, muito importante, procurar uma padaria. E você vai fechar os olhos para morder o pão. Vai ter manteiga escorrendo pelo canto da sua boca. Vai ter suco de laranja. Vai ter geleia. Café expresso cremoso, com leite. E vai ter um estranho rindo do seu café da manhã em êxtase.

E você vai tirar o dia para passear, andar pelas ruas descontraído. E você vai gostar da ideia de fazer turismo pelo próprio bairro, pela sua cidade.

Você vai encontrar seus filhos, vai ao clube e vai encontrar os amigos e vai abraçá-los como se nunca tivesse feito isso antes. E vocês vão colocar a conversa em dia em um bar. Acredite, a coxinha, o salaminho, o provolone, a linguicinha vão estar deliciosos e vocês vão falar de viagens, de música, dos colegas de trabalho, vão jogar conversa fora. E você vai tomar um chope. Um chope cremoso, quase pornográfico. Um chope que vai descer macio, que vai ser um acalanto etílico, um chope redentor.

Acalme o coração, esse dia vai chegar. Fique firme. Isso vai passar. Por enquanto, use máscara, beba água, vacine quando chegar a sua vez, medite, trabalhe, escreva bobagens no WhatsApp e tente não morrer. Eu, apesar de quase ter sucumbido a esta doença implacável, graças a Deus estou por aqui, vivo, e mantenho a esperança de logo poder ver meus filhos e tomar café da manhã na padaria.

Livre adaptação de texto de Gilberto Amendola.

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