Mosaico

Este post é uma republicação de texto escrito por mim em 2009. Relendo-o, decidi publicá-lo pois me dei conta que é atemporal...



Este texto é composto por reflexões, e fragmentos de lembranças, pensamentos e sensações, que expresso livremente, escrevendo como se estivesse construindo um mosaico. Ao fazê-lo, emergiu de minhas memórias, um mosaico que capturou minha imaginação: é uma réplica do famoso mosaico de Pompéia, com a palavra “Imagine” no centro, um presente da cidade de Nápoles da Itália ao memorial John Lennon no Central Park, lugar em que ele costumava caminhar e refletir sobre as coisas da vida. Por lá, muitas vezes, tentei seguir suas pegadas.

Ficava um bom tempo naquela alameda do parque, pensando na possibilidade de um mundo unido e sem fronteiras, em paz, e voltado ao bem comum. Sonhava com isso! Mas hoje, apesar da esperança e de ser grande admirador de Luther King e Ghandi, reluto, mas acabo sucumbindo à realidade que nós mesmos criamos, da mesma forma que o idealista e Nobel da Paz, Barak Obama:

"Não se enganem: o mal existe no mundo. Um movimento de não violência não poderia ter parado os Exércitos de Hitler. Negociações não podem convencer os líderes da Al-Qaeda a depor suas armas. Afirmar que a força é necessária em algumas ocasiões não é um chamado para o cinismo, é um reconhecimento da história, das imperfeições do homem e dos limites da razão."

Reconhecimento dos limites da razão... O mal não tem limites, a razão sim. É difícil entender! Temos o livre arbítrio, a decisão está em nossas mãos! Por que complicamos tudo? Qualquer um que se identifique com os ideais de John Lennon cantados na sua famosa canção, é, no mínimo, tratado pejorativamente como ingênuo ou idealista. Quem faz as guerras? Você? Eu? A sociedade civil? Certamente não!

Porque é ingenuidade ser honesto e justo com as pessoas, viver menos em função das coisas materiais e mais em função da ética e da moral, interessar-se verdadeiramente pelos outros seres humanos. Complicado entender e aceitar isto e estas relações sociais caóticas em que vivemos, por mais bonitas que “marketeiros” e grupos de interesse diversos as pintem e justifiquem, em nome de uma suposta modernidade.

A florada do Ipê Rosa em frente a minha casa parece mais bonita nesta primavera de 2009... Não só isso, todas as árvores aqui estão especialmente mais verdes e luminosas! Lindo e transitório, o que me faz apreciá-las com muita intensidade, já que em pouco tempo chegará o outono e elas se transformarão. Sinto que ampliei minha consciência sobre a transitoriedade das coisas e da vida. Tudo é efêmero, assim como começa, termina ou se transforma até tornar-se irreconhecível.

Quando intuímos ou nos tornamos conscientes que algo esta para terminar, a nossa percepção muda. O que está acabando fica diferente, e se é algo que gostamos e estamos apegados, parece ficar ainda mais atraente. Ou será que sempre foi assim atraente e eu não havia notado?

Interessante que quando a mudança inevitável se instala e não resistimos inutilmente à vida, ampliamos a nossa consciência e passamos a ver tudo com novas cores, de forma renovada. Sábio é não resistir ao imponderável do destino, mas sim transformar-se positivamente com ele.

Da poltrona da sala, quase que hipnotizado, olho as luzes da árvore de Natal. Esta é uma época especial, um tempo de luz no sentido mais amplo que isto possa significar. É difícil aceitar a descaracterização do seu significado. Gosto de ficar sozinho, à noite, apreciando as luzes, os adornos e o pequeno presépio, símbolo do real significado deste período.

As vezes não penso em nada. Algumas, no entanto, me elevo espiritualmente. Sinto a presença divina quando penso no universo e no milagre da vida. Me fascinam as contínuas descobertas sobre o universo através das novas tecnologias e a capacidade humana de entender como tudo isso funciona. Quanto mais entendemos o seu funcionamento e mais compreendemos o quanto somos limitados para saber a sua origem, mais me aproximo de Deus.

Me emociona profundamente a concepção da vida e o vir a luz de um ser humano. Por mais que pessoas inferiores banalizem o ato e o fato, como é divino gerar uma vida, e, com amor incondicional, acompanhar passo a passo sua gestação e o desenvolvimento de um bebê, sendo aceito e amado por ele, e ajudando-o a tornar-se uma criança e um adulto equilibrado, bom e útil para a sociedade. Poderia até se dizer que é para isto que estamos neste mundo. Tão simples, tão complexo.

Segundo o que se diz, o macho da espécie humana está perdido e em decadência. No entanto, não tem nada mais chato do que mulher executiva, daquelas cujo único assunto são os “fringe benefits”, as “Commodities”, as reuniões de negócios, tão “práticas, objetivas e poderosas” como manipuladoras, frias e insensíveis.

O que dizer então das “mulheres-fruta” e certos comportamentos pouco louváveis e bem característicos do mundo feminino, que grupos de interesse e a mídia fazem questão de fazer parecer normal? Será que é só o macho que está perdido e em decadência?

A espécie humana está precisando urgentemente de uma “reciclagem”, para reaprender coisas sagradas como viver em harmonia com a natureza e certos papeis fundamentais na vida, que não são intercambiáveis. Com nossos inventos e estilo de vida, estamos destruindo o planeta e inviabilizando a vida, não só nos aspectos de clima e ambiente, mas, também, em questões éticas e morais.

Sabemos o que precisa ser feito para evitá-lo, mas nossos governantes (que teoricamente nos representam) e empresários, tratam isto como disputas de poder, objeto de negociações egocêntricas, ações de marketing e interesses econômicos. Como pode ser sustentável um sistema que pressupõe crescimento infinito em um planeta com recursos finitos?

Reduzimos as relações humanas ao vicio de jogar. Somos todos jogadores e como parte do “blefe” típico dos jogos de azar, somos atores, atuando permanentemente em um gigantesco palco onde exercitamos nossas habilidades expondo veladamente nossos defeitos pessoais e limitações humanas. É assim na vida pública e privada, na educação, na saúde, na cultura, nos negócios... Que bom seria se tivéssemos duas vidas, uma para aprender e ensaiar e outra para viver.

Repetindo algo que faço a muito tempo, mas, desta vez, por razões muito especiais, fui tomar um cafezinho no Aeroporto de Congonhas. Apreciando a atividade e o vai e vem das pessoas, lembrei-me de um texto de Fernando Pessoa desenhado numa parede do segundo andar, junto com fotografias nostálgicas dos primeiros anos do aeroporto que era a minha “porta” para o mundo, para o desconhecido, e logo percebi que ali estava a “pedrinha” que faltava para concluir este mosaico:

“Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçando sobre as ruas e praças, sobre os gestos e os rostos sempre iguais e sempre diferentes, como afinal, as paisagens são. A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos”.

A vida é uma viagem. Uma viagem em busca de algo mais elevado e perene, que nos aproxime mais de Deus. “Imagine” ... Palavra mágica que induz ao sonho... Ainda sonho. A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.


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